sexta-feira, 21 de setembro de 2018

FORMAÇÃO DE PROFESSORES/GESTORES – ESTABELECIMENTO DE METAS ESVAZIANDO A XÍCARA





FORMAÇÃO DE PROFESSORES/GESTORES
ESTABELECIMENTO DE METAS
ESVAZIANDO A XÍCARA

Nas duas semanas em curso, nos dias 19 e 20 e 26 e 27 de setembro, a rede estadual de Alagoas estará passando pela formação dos seus professores/gestores. O número convém à nossa realidade, pois contabilizamos mais de 600 professores/gestores que, dispostos nas treze gerencias regionais e mais de 300 escolas, formam uma rede. A formação tem como eixo norteador que o professor/gestor é líder pedagógico da escola. É necessário fortalecer essa prédica. Por dois fatos: 1. Ainda é preciso que se fortaleça o papel de líder pedagógico dos professores/gestores pois ainda temos a peja de que a gestão da escola ainda está muito ligada a outros assuntos – prestação de contas, atendimento aos pais, indisciplina, fluxo de corredores, burocracia e etc. Por isso, torna-se muito importante realinhar o foco. É necessário salientar, também, que a rede estadual acabou de passar por um longo processo eleitoral, em que todas as escolas ou reelegeram seus professores/gestores ou elegeram novos professores/gestores, enfim, nesse universo de gestão escolar o número de professores que estão experimentando esse momento pela primeira vez ainda é considerável. 2. Ainda é preciso que se fortaleça o papel do líder pedagógico dos professores/gestores, pelo fato de que essa formação não pertence ao universo formativo desses professores. De forma simples, aprendemos na universidade a sermos professores e não professores/professor/gestores, a despeito que essa incumbência se demonstra aos colegas de profissão constantemente. Então, como saber se os caminhos trilhados estão sendo acertados? Como elaborar e reelaborar ações que possam efetivamente contribuir para a aprendizagem dos estudantes? Todas essas são questões que somente em colegiado constante e com o apoio das gerências regionais, colegas professores e SEDUC podem ser aprimoradas.
A formação começou pela árvore dos desafios, quando os professores/gestores são convidados a expressar, de forma rápida, quais eram os principais desafios que compõe o trabalho da gestão. A própria expectativa dos formadores era que, nesse momento, os professores/gestores se posicionem mais para questões relacionadas aos desafios estruturais, pessoal de apoio, comprometimento da equipe, indisciplina dos estudantes, a falta de foco, acumulo de atribuições, necessidade de descentralização de atribuições e etc., os desafios pedagógicos não foram muito descritos. Sintomaticamente os professores/gestores, por serem professores de formação não apontaram as questões pedagógicas, de forma consensual como um aspecto que já possui qualidade – quase um ponto pacífico.
Por outro lado, são elencadas questões de relacionamento como os mais pontuais como desafios. Assim sendo, a proposta inicial é exercitar a reflexão para a gestão por competências socioemocionais. Pelo óbvio compasso de que o desafio da convivência das vezes ultrapassa as barreiras do profissionalismo, tanto positivamente quanto negativamente. São questões sinuosas, de difícil acesso, pois envolve vidas, carreiras e sentimentos. É importante lembrar que na labuta da gestão de uma escola, na maioria das vezes se convive mais em ambiente de trabalho com outras pessoas do que em casa com os nossos familiares. A proposta é a utilização do autoconhecimento e de um alto grau de profissionalismo para se lidar com situações que fogem a qualquer regra de previsibilidade. Para saber superar esses desafios é necessário conhecimento e para tal, é necessário imergir nessa realidade. Agir como professor/gestor é perceber as entrelinhas e, além disso, saber agir sobre essas demandas. O diálogo entre esses diversos atores é difícil, pois somos fruto de gerações de professores que foram formados focando a especialização de sua própria área.... E no final das contas temos dificuldades em perceber a formação em sua totalidade humana: o ser humano afetivo, social e cultural. 
Por isso, o desenvolvimento das competências socioemocionais é extremamente importante para a qualificação dos professores/gestores. Capacidade de articular, mobilizar compreender diferenças, criar oportunidades potencializando os vários entes que estão em ação na escola. É óbvio que isso tem como objetivo fundamental a aprendizagem dos estudantes, com qualidade e tendo como princípios a igualdade e a inclusão pois estamos falando pontualmente de um equipamento social. As cinco emoções que enfocamos na formação são a abertura para novas experiências, a extroversão, a amabilidade, a conscienciosidade e a estabilidade emocional. Trata-se de um rumo novo, inclusive proposto para o desenvolvimento de competências e habilidades da BNCC, e que também deve estar presente na atmosfera da escola. Os principais responsáveis pelo desenvolvimento dessa atmosfera? Professores/gestores.
No final das discussões sobre as competências socioemocionais os professores/gestores são convidados a participar de uma dinâmica de autoconhecimento. Por meio de uma mandala, traduzida em uma roda para equipes de alta performance, cujos pontos de avaliação são: valorização das diferenças, disponibilidade para compartilhar conhecimento e expertise, desenvolver o espírito de visão sistemática, saber como pensa cada um dos outros, metas comuns, noção comum de propósitos e de prioridades, disponibilidade para falar abertamente, conhecimento das forças e dos pontos de melhoria de cada um. Após a análise de cada uma das competências os professores/gestores são convidados a pensar nas três mais cambaleantes e inferir propostas sobre elas. É importante que eles tenham sempre a mandala das potencialidades perto de si, como um semáforo a guiar os seus procedimentos.
Em um segundo momento, os professores/gestores são convidados a refletir a respeito das questões inerentes a três dimensões da gestão da escola. A dimensão participativa, que remete a questões de caráter de integração entre os diferentes entes da escola, não é tão diferente do que foi trabalhado na questão socioemocional como caminho para a aprendizagem. Torna-se importante, olhar o ser humano com a riqueza que ele pode oferecer e a necessidade de se estar sempre alerta para enxergar o outro. E que possa pensar também que existe uma rede de colaboração e auxílio aos estudantes, crianças, jovens e adultos. Tudo isso constitui uma fortaleza cuja rede pode ser uma saída que contemple a resolução de problemas de forma coletiva e colaborativa.  A gestão administrativa tende a identificar quais recursos (humanos, financeiros e patrimoniais) estão à disposição da gestão da escola pois focá-los, permite um real plano de ação tendo o pedagógico como meta. Essa dimensão é extremamente delicada, pois ela fundamenta toda a base estrutural da escola. Dessa forma, é importante ressaltar que a Gestão Pedagógica pode ser abordada como gestão de resultados, que não deve concorrer com o processo de gestão para a aprendizagem. Com isso, vale salientar que é da maior importância introduzir questões de avaliação dos vetores que resultam em desempenho de aprendizagem. A dimensão pedagógica precisa de estruturação e organização de dados, cujos resultados não são importantes para ranqueamentos, mesmo que eles nos tragam a sensação de vitória e/ou derrota. A análise dos resultados, tanto da avaliação da aprendizagem, quanto das avaliações externas é importante por evidenciar os problemas de aprendizagem mais latentes, que evidenciam para a comunidade escolar quais são os filões que devem ser sanados. É importante ter em mente que não se cria uma escola com base em ações ao acaso, nem nos achismos, mas com uma base sólida, diagnosticada, avaliada, discutida e gerida coletivamente.
No final do primeiro dia os professores/gestores são convidados a participar de uma oficina avaliativa sobre as três dimensões.
No segundo dia, os professores/gestores foram convidados a analisar a respeito dos índices da escola sob sua gestão. Algumas questões serão propostas como: Qual a importância do IDEB no contexto vivenciado pela escola? Os últimos dados são recentes, e nesse momento estamos ainda percebendo os saltos, os avanços e os desafios que a rede precisa enfrentar para o novo ciclo do IDEB. A rede está sob a emoção dos últimos resultados, e suscitam maiores desejos. No final das contas essa é uma escolha importante da rede, mesmo que existam críticas que a respeito dos trabalhos impulsionados às metas do IDEB. Torna-se necessário, então, justificar em que medida esse trabalho deve ser empreendido. Pois o trabalho para a conquista do IDEB não é mecânico e não se desenvolve com fórmulas mágicas. E não constituirá apenas número, mas contribuição substancial para o futuro dos nossos estudantes.
Assim, os trabalhos que envolvem o fluxo, requerem a sensibilidade da mudança de perspectiva pois é necessário vencer a tradição da reprovação punitiva. Isso não ocorre apenas pela questão do índice, mas principalmente pela questão social. Existem, reconhecidamente, maiores possibilidades de evasão por parte de estudantes que estão fora do fluxo idade/escolaridade, que são justamente os que mais são reprovados. Assim sendo, o trabalho com a permanência e aprovação qualificada dos nossos estudantes é fundamental para a vida da escola enquanto, equipamento social. O índice, então, será obviamente resultado desse esforço.
No que diz respeito aos trabalhos preparatórios para a Prova Brasil, eles devem estar atrelados, não somente em momentos pontuais, mas devem estar articulados à gestão da aprendizagem dos nossos estudantes. Para isso, tornam-se necessárias avaliações diagnósticas, trabalhos de resgate da aprendizagem, organização qualitativa da avaliação da aprendizagem, eventos de preparação pontual, orientação/acompanhamento/formação da prática docente, melhoria do clima escolar, parcerias com a família e a comunidade, enfim todas as possibilidades que tornem a aprendizagem efetiva. Assim, é importante entender que, existirá muito mais dificuldade na progressão dos estudantes em todos os componentes curriculares se o trabalho de base, de leitura, interpretação, produção de texto e resolução de problemas não for realizado.
Os professores/gestores estão recebendo o boletim da escola, cujo material foi produzido de forma personalizada e descreve os índices para cada etapa de escolaridade de cada escola da rede, com dados de proficiência em Matemática, Língua Portuguesa, o coeficiente de proficiência e Fluxo. Além disso, no boletim constam os dados de 2015, os dados projetados e as notas alcançadas em 2017. Com isso os professores/gestores são convocados a refletir sobre o desempenho histórico da escola, e a partir de então, e a socializar experiências e propor um pré-plano de ação para o ano de 2019.
O momento está motivando a elevação da autoestima dos profissionais da educação, trazendo para os nossos estudantes maiores possibilidades de protagonismo. Percebemos uma variedade pungente de vivências e experiências em nossas escolas, em que várias tempestades de ideias surgem possibilidades de emersão da nossa educação. O saldo positivo desse momento está em fortalecermos o trabalho sistemático em rede. Mais de 300 escolas convocadas a pensar sua gestão tendo como foco a aprendizagem. Que 2019 seja repleto em sua seara e em seus frutos.
(Daniel Marinho, Rapsodo dos Sertões)

quarta-feira, 30 de maio de 2018

AS BUZINAS TOCAVAM SEM CONSTRANGIMENTO! APELO A DITADURA E A FALTA DE APROFUNDAMENTO NO DEBATE POLÍTICO



AS BUZINAS TOCAVAM SEM CONSTRANGIMENTO!
APELO A DITADURA E A FALTA DE APROFUNDAMENTO NO DEBATE POLÍTICO
         Sou de uma geração de professores de História que, sim, abertamente consideravam a ditadura militar uma anomalia análoga ao desenvolvimento da civilidade dos povos. Sabíamos, de forma quase pacífica, que essas ditaduras eram, inclusive, fruto dos próprios processos inerentes à civilização, mesmo que fossem contra a civilidade. E eis que, em um processo aparentemente rápido, uma parcela conservadora da extrema direita começou a flertar com a opinião pública, ecoando vozes difusas que reivindicam o poder, ou parte do poder. Em muitos setores da sociedade, inclusive nos assentos governamentais, seus adeptos estão esfregando as mãos e babando para que o caldo entorne. De onde vêm esses apelos? Seríamos capazes de tentar explicar tal fenômeno, inclusive encaixando-o em um arsenal maior de histeria de massa que comportaria outros fenômenos? Digo dessa forma, depois do tempo enquanto professor de História, que testemunhou a existência contemporânea de grupos que pedem a volta da ditadura militar, o cultivo de um poder centralizador, e até mesmo a existência daqueles que estão dispostos a incensar a volta da monarquia, com todos os seus penduricalhos estilísticos e toda sua liturgia oca. Certamente qualquer explicação será uma tentativa aberta para vários complementos e/ou refutações. Isso me faz ver que esse embate se trata de um terreno minado, mas estou disposto a ouvir uns pipocos aqui e ali.
                Uma das imagens mais curiosas das últimas semanas (estamos no final de maio de 2018) foi passar pela principal avenida de Maceió (AL) e, após quartos de hora mais impacientes do que de costume no trânsito, chegar em frente ao quartel e encontrar um grupo acenando e solicitando apoio dos transeuntes à ideia do retorno a ditadura militar. Pensei bem rápido, sem atentar rapidamente para a dimensão daquele cenário. Tive a sensação de algo inédito: colocar a mão no queixo, de forma idiota, e dizer, em voz mediana, que cheguei na idade de afirmar que nunca tinha pensado em assistir a tal cena. De tão aterradora, a cena me tirou a capacidade imediata de reflexão, entretanto, meio malcriado, baixei o vidro do carro e resmunguei para o guarda de trânsito, que estava acenando ao caos, que aquilo era uma loucura. Vi senhoras distintas e homens de qualquer classe social, semelhantes a Adolf Eichmann, militar nazista analisado por Hannah Arendt no clássico Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do Mal. Eles eram loucos? Monstros? Criaturas bizarras no primeiro olhar? Não, categoricamente! Eram cidadãos comuns, certamente cumpridores dos seus deveres, mas ansiosos por serem partícipes de uma nova ordem, que consideravam melhor, mais justa e pacífica. Estavam, de forma ordeira e cidadã, no aguardo de um messias que trouxesse a ordem ao caos e estavam atentos para auxiliar que essa ordem se instale. O nosso messianismo político, aguardando o mais selvagem dos “salvadores” de plantão – o militar. Neste final de maio de 2018 mencionado, como a cereja do bolo de um tempo conflituoso (são muitas cerejas, diga-se de passagem), observamos o desenrolar da maior greve dos últimos tempos. A greve dos caminhoneiros abre escaras, pois não se trata apenas da penalização de um único setor da sociedade. Indissociavelmente as escaras estão abertas no fluxo da produção agrícola, no abastecimento das cidades e principalmente na rotina de todo o país. Tocamos nesse assunto pelo fato de estarmos vendo, de forma muito impactante, uma associação direta entre o movimento conservador que suplica o retorno da ditadura militar e o seu inconformismo com a situação de aparente desordem contra a ordem burguesa que se instalou.
                Como é difícil lidar com situações que impõem mudanças rápidas e drásticas ao fluxo natural (construído) do cotidiano! A miséria “permitida” de algumas classes que nos faz acostumados a ver miseráveis não é mais chocante do que a ameaça de desabastecimento, que afetaria a todos. Sem conseguir lidar e/ou explicar uma situação como essa e explicar contextos sociais, políticos e econômicos novos não é para qualquer um, algumas camadas da nossa população optam por tirar do baú do inconsciente seus desejos políticos mais remotos. A visão de um poder centralizador, que mantém a ordem com esmero e que ainda consegue manter classes e sujeitos socialmente não desejados apartados da sociedade, de forma até viril, preenche um imaginário ansiado de forma quase erótica, por parte da nossa população. E hoje não encontramos esse desejo apenas na classe média mais abastada, que se sente amargurada pela inserção das classes C e D em uma margem mínima de consumo. Assim, jogando pedra no meu próprio telhado, já encontrei inclusive colegas professores (de História) defendendo tal plataforma.
No momento em que passei pela manifestação, irritado por ver inicialmente a minha rotina interrompida, me lembrava que a defesa da ditadura – e suas prerrogativas coercitivas – configuram um desrespeito à Constituição de 1988, o que configura um crime. Também se tornou impossível não pensar qual seria a reação da maioria dos transeuntes e apoiadores se aquela manifestação fosse de outra natureza ou classe social – impossível não pensar: Pau que dá em Chico, não dá em Francisco. Quando digo que sou relativamente pessimista, alguns dos meus amigos mais próximos não acreditam, mas esse pessimismo (adicionado com mais duas porções de tristeza) ficou um pouco maior, quando testemunhei que os manifestantes solicitavam que os motoristas buzinassem, caso aprovassem a ideia proposta: E AS BUZINAS TOCAVAM SEM CONSTRANGIMENTO!
Sei, de relance, que nossa linha de pensamento está sempre antenada com as dinâmicas da educação de Alagoas, e o caro amigo leitor pode me perguntar o que essa tentativa de reflexão verificada acima tem de paralelo com a educação. E é claro que a resposta é muito tola, pois mesmo passando por esse debate atualmente, e que estejamos ainda tontos com propostas míopes de disciplina e coerção dos procedimentos e discursos dos docentes em sala de aula, insisto: a democracia é valor inalienável à construção e edificação de uma Escola Cidadã. E ainda mais assertivo é dizer que a democracia, enquanto valor, não recai no jogo discursivo simplório que ouvimos vez ou outra de que a própria democracia permite a opinião a favor da ditadura e que isso deve ser respeitado. A opinião defensora da ditadura não deve ser considerada, não deve ser posta em pauta, ou posta apenas na dosagem semelhante à de uma vacina. O organismo deve conhecer, em dose homeopática suficiente para não se deixar contaminar e se armar contra a ameaça. A ditadura, como pior de todos os cenários políticos, consegue ser capaz de, por sua natureza intransigente, confundir o espírito menos avisado a respeito da organização e condução das decisões, difundir sem explicações as desigualdades sociais, mascarar o desenvolvimento da nação, destituir e matar os que não estão alinhados, usufruir da legalidade da máquina em seu proveito, e de seus eleitos, tudo isso com a maquiagem protetora que embelezam as rusgas mais profundas ou no brilho falso de estrelas bordadas em belos uniformes.
Cabe à Educação, regida por seus princípios legais, mas principalmente pelo comprometimento ético da formação de seus profissionais, salvaguardar a democracia como conceito, como processo em construção coletiva, como exercício e como valor. Dessa forma, é muito importante estar atento aos sinais desses tempos, para que não se saia buzinando por aí!
Daniel Marinho, Rapsodo dos Sertões.    

quarta-feira, 25 de abril de 2018

ABANDONO ESCOLAR – QUESTÃO SOCIAL E PEDAGÓGICA – O COPO ESTÁ ENCHENDO...


ABANDONO ESCOLAR – QUESTÃO SOCIAL E PEDAGÓGICA – O COPO ESTÁ ENCHENDO...

         Na última semana a equipe SURE (Superintendência da Rede Estadual de Ensino) consultando os dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) lançou os dados sobre evasão, taxa de aprovação e de reprovação da Rede Estadual de Ensino de Alagoas, desde 2014. Analisando esses dados veio-me à memória uma metáfora antiga que minha mãe cansava de repetir – a do copo meio cheio e meio vazio.
         Sabemos o quão interessante e perigoso pode ser a análise de realidades sociais através de dados quantitativos. Gosto inclusive de dizer que, afinal de contas, será a postura dos sistemas educacionais, com seus professores, coordenadores, gestores, gerências regionais e SEDUC, em suas posturas, se o dado será utilizado como vetor de avaliação e reposicionamento das ações ou meramente fará parte do amontoado amorfo e frígido da burocracia. Torna-se necessário, portanto, entender que os dados devem pertencer à galeria das considerações que fundamentam a projeção, traçam metas e institucionalizam ações criando uma cultura de trabalho pedagógico com profissionalismo e foco. Pois bem, sigamos.
         Dessa forma, as taxas de rendimento da rede estadual de ensino de Alagoas foram analisadas desde de 2012 até 2017, pelas fontes que foram acima referenciadas. Estamos aprovando mais e com mais qualidade. Em 2012 o Ensino Fundamental tinha uma Taxa de Aprovação de 68,7 e já em 2017 observamos 85,0. No Ensino Médio tínhamos uma aprovação de 69,0 e em 2017 observamos 83,1. Estamos reprovando menos, mesmo que ainda reprovemos muito. Em 2012 a Taxa de Reprovação no Ensino Fundamental era de 16,2, já em 2017 reprovamos 8,8. No Ensino Médio reprovamos em 2012 o total de 9,2 e em 2017 o total de 7,5. E nossos estudantes estão abandonando menos a escola, mas não podemos relaxar em hipóteses alguma. Em 2012 15,1 dos nossos estudantes do Ensino Fundamental tinham que abandonar os estudos, já em 2017 6,2 foram forçados a tal. Quanto ao Ensino Médio em 2012 21,8 dos estudantes abandonavam, já em 2017 9,4 assim o fizeram.
Se observarmos, numa perspectiva histórica, esses dados demonstram, contraditoriamente, que sérios problemas sociais persistem, ao passo que demonstram um avanço progressivo, o que não demonstra algo conjuntural ou acidental, mas consciente, por se tratar da organização coletiva de políticas públicas de educação e ininterrupto, pois resulta de uma proposta de estado.
O copo ainda está meio vazio, representa dizer que os dados que indicam problemas com evasão, aprovação e reprovação decorrentes dos contextos sociais e pedagógicos. Nesse caso, a evasão, se evidencia como uma das questões mais difíceis de serem combatidas, pela presença muito evidente de vetores exógenos à vida escolar de forma direta. A necessidade de locomoção de algumas famílias, onde um dos cônjuges precisa estar atrelado a invariabilidade do seu ofício. A quantidade de meninas e meninos que se vem nas relações de maternidade e paternidade precocemente. A quantidade de jovens que estão ligados ao tráfico de drogas e outros tipos de violência. A quantidade de jovens que precisam tomar conta dos irmãos mais novos, ou dos idosos da família. Finalmente, a quantidade de jovens que precisam trabalhar, de forma perene ou sazonal, tanto nos perímetros urbanos, quanto nas lavouras e no extrativismo.
Mas estamos enchendo o copo. Mesmo com a consciência umbilical de que muito deve ser feito precisamos pensar que esses dados não foram ao acaso. Eles representam a institucionalização e implementação na rede estadual de Alagoas de várias ações e principalmente de uma nova atmosfera da vida escolar. Assim, o protagonismo juvenil tem sido uma das marcas dos últimos tempos nas escolas da rede estadual, e dizendo-o por uma interpretação bastante pessoal que o desenvolvimento dessa perspectiva também é o fortalecimento da gestão democrática e por fim, do exercício da cidadania. Percebemos, ainda, que o desenvolvimento da proposta curricular das escolas de Ensino Integral também está nessa direção. Finalmente, a rede estadual de ensino passou a entender e agir para o desenvolvimento da inclusão e da qualidade do ensino através da prática cidadã e da perspectiva científica para a formação dos nossos estudantes.
(Daniel Marinho, Rapsodo dos Sertões, Gerente de Desenvolvimento Educacional)


quinta-feira, 22 de março de 2018

ELEIÇÕES NAS ESCOLAS DA REDE ESTADUAL DE ENSINO



ELEIÇÕES NAS ESCOLAS DA REDE ESTADUAL DE ENSINO

Na semana de 12 a 16 de março de 2018 grande parte das escolas da rede estadual de ensino de Alagoas estava envolvida com as eleições para gestores. Desde o início, a equipe da SEDUC esteve empenhada para que o pleito acontecesse da melhor forma possível. Foram 122 escolas e podemos dizer que, quantitativamente, compartilhamos um pleito com colégio eleitoral maior do que muitas cidades. Cabe-nos, então, algumas considerações.
De forma macro, as escolas estaduais se configuram como um dos locus onde o exercício da democracia mais deve existir. Podemos dizer inclusive que se aprende democracia na escola. De forma histórica, o exercício da democracia e o desenvolvimento do pensamento científico têm sido as principais bandeiras da construção de uma escola moderna e que promova a cidadania. Todas as ações devem então estar sincronizadas para esse objetivo.
Antes mesmo a formação do novo quadro de gestores para as escolas da rede estadual, o pleito vivido há pouco tempo, faz parte do início de um novo ciclo democrático, em que os gestores são parte diretiva, e que, imersos em todas as dificuldades, inerentes ao processo de coordenação e gestão de grupos, instituições e pessoas. Entretanto, eles não são as únicas andorinhas, mesmo que tenham boas intenções sozinhos, não poderão reorganizar o processo de crescimento e desenvolvimento de nossas escolas. A lição que propomos, com o pleito de eleição dos gestores das escolas da rede estadual, é que a lição democrática não se encerre com esse momento. Que ela sirva em nossas escolas para o entendimento de que um caminho possível e plausível para a escola pública de Alagoas e o desenvolvimento da democracia com todos os seus sujeitos, em todos os seus espaços, congregando as diferenças e se propondo a ser um processo perene. As eleições serão, então, um dos momentos mais prazerosos, em que a comunidade escolar, dotada de entendimento sobre sua realidade faz a escolha pela continuidade ou pela mudança de uma proposta, realizando de forma consciente e madura o rito de passagem de todos os sistemas democráticos. Que ao processo democrático das eleições que estamos vivendo acresçam-se professores vigorosos e comprometidos, funcionários dedicados, conselhos escolares engajados, grêmios estudantis atentos e atuantes e comunidades sensíveis ao desenvolvimento da escola, sem desconsiderar, claro, a importância do papel institucional da SEDUC.
Daniel Marinho, Rapsodo dos Sertões.


segunda-feira, 5 de março de 2018

ALGUNS DESAFIOS PARA O ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS DA REDE ESTADUAL DE ALAGOAS.




ALGUNS DESAFIOS PARA O ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS DA REDE ESTADUAL DE ALAGOAS.
Nessa última semana, estivemos reunidos durante dois dias com gerentes regionais, chefes de rede e técnicos pedagógicos. Alguns desses últimos ganharam o apelido, que advogo que se torne uma alcunha, de elos pedagógicos. A denominação me parece justa, já que, além de professores, esses técnicos pedagógicos desempenham um trabalho árduo em suas regionais com o objetivo de realizar o acompanhamento pedagógico das escolas. A despeito de todo o empenho, consideramos que alguns pontos e procedimentos precisam ser repensados e, por consequência, mudados. Daí, nesses dois dias termos convidados tantos confrades com a intenção de apresentar-lhes as novas/antigas ideias para o acompanhamento pedagógico. Novas/antigas justificasse, já que, para os momentos de mudanças, tendemos a fracassar, quanto mais acharmos que as experiências anteriores não tenham muito a nos dizer. Elas inclusive, têm a nos dizer na medida em que vários de seus elementos são postos a prova, interrogados e finalmente descartados ou aproveitados, como produtores de uma síntese. Então, chegamos à conclusão de que era necessário analisar quais os formatos com os quais o acompanhamento pedagógico sempre aconteceu e realizar uma crítica desse processo. Feito esse primeiro percurso, a intenção passou a ser o estabelecimento dos princípios do acompanhamento pedagógico para as escolas da rede estadual de ensino.
Algumas considerações e algumas prédicas precisam ser contestadas, quiçá aniquiladas do cotidiano do acompanhamento pedagógico. Convido então, o(a) amigo(a) leitor a pensar sobre elas. Até então, nos parece que existe uma tradição na rede estadual que versa que o monitoramento das escolas se travestia de uma atmosfera de vigilância, punição e burocratização das ações. Discutimos essas questões nas reuniões e pudemos colher as principais impressões a respeito da confirmação da presença desses hábitos. Vamos finalmente ao nosso desafio?
Mesmo sabendo que muito tem sido feito, precisamos implodir as sensações de vigilância e punição. Vejamos inclusive, que já por muito tempo, a educação brasileira chamava o ato de “visitar” escolas de monitoramento. O ato de monitorar, e o fato de que todo ele era acompanhado de um capital social e cultural muito forte, por parte do técnico da regional ou da SEDUC, produzia uma antipatia da equipe escolar. São ainda muito comuns os discursos como: Esse cara da secretaria só vem aqui exigir. A secretaria só pede as coisas. A equipe da SEDUC vem nos punir. Visto isso, é necessário dizer que a primeira grande intencionalidade do acompanhamento pedagógico é a criação de um laço de confiança fundada no profissionalismo. Isso equivale dizer que, rejeitando o papel de um algoz do cotidiano da escola, o elo pedagógico deve integrar-se às rotinas, observando as fraquezas do processo de gestão pedagógica auxiliando a superação desses percalços. Gosto demais de dizer que nossa tarefa é criar pontes e não muros.
Mesmo sabendo que muito tem sido feito, precisamos implodir a sensação de burocratização do acompanhamento pedagógico. Pensemos, outra vez, na imagem do elo pedagógico indo à escola, entregando uma ficha qualquer, aguardando que ela seja preenchida, tomando um último cafezinho e indo embora. Nem preciso dizer que aquela ficha produz, na verdade, um lapso de realidade, um corte de memória tremenda sobre as relações da escola. Não que os números não digam nada. Na verdade, dizem parcialmente, e são sempre importantes para que, de forma proto-cientifica, se possa planejar as políticas públicas em educação. Queremos dizer então, que, mesmo existindo uma parcela importante de colhida de dados de forma alguma eles serão a razão principal da execução do acompanhamento pedagógico.
E finalmente, onde queremos chegar? Precisamos compreender o acompanhamento como a criação de uma rotina de ação – orientação – ação nas escolas da rede. O elo pedagógico será o agente que, inserido no dia a dia da escola, poderá inferir sobre o desenvolvimento das práticas pedagógicas, contribuindo para que a escola se perceba com uma gestão mais racionalizada e produtiva. Nesse sentido, profissionalismo, e até mesmo o afeto, servirão para a criação de elos de confiabilidade essenciais ao impulso da nossa realidade escolar.
Antônio Daniel Marinho Ribeiro, Rapsodo dos Sertões.   


terça-feira, 9 de janeiro de 2018

DA SÉRIE PARA UM NOVO ENSINO MÉDIO: BNCC – DAS LUZES AO OBSCURANTISMO?



DA SÉRIE PARA UM NOVO ENSINO MÉDIO:
BNCC – DAS LUZES AO OBSCURANTISMO?
Questão a ser tratada, com urgência, é a Base Nacional Comum Curricular - BNCC. Estamos vivenciando um dos últimos processos de construção e implementação de uma Base Nacional Comum para o Brasil, o que torna importante ressaltar a presença do terceiro setor na cerimônia de homologação além das outras autoridades tangentes ao processo. Nessa cerimônia de homologação, tal como antes, foi apenas promulgada a versão para a Educação Infantil e Ensino Fundamental, enquanto que o Ensino Médio continua sendo um grande ponto de interrogação.
Para falar um pouco da experiência vivida enquanto professor de História que passou pelo corpo de especialistas que elaboraram as duas primeiras versões preliminares, fui convocado, à época, enquanto técnico pedagógico da SEDUC/AL para participar da construção da BNCC. Já tendo experiência na construção do Referencial Curricular da Rede Estadual de Alagoas, quando do convite, fiquei extremamente lisonjeado, ao passo em que também me pus com um pé atrás e munido de uma desconfiança própria de professores de História diante de uma empreitada dessa monta. A minha sensação era a de que chegaríamos no processo apenas para validar os textos pré-cozidos pelo MEC, mas que no final das contas, a experiência se mostrou válida.
Ao menos que o caro leitor acredite em teorias da conspiração, para a minha surpresa o trabalho estava totalmente cru. Para não dizer que não falei das flores, posso até afirmar que foi posto em discussão, de forma preliminar, um texto que serviria de base para a Área de Ciências Humanas, entretanto estava mal-acabado e serviu apenas de preâmbulo para as discussões. Posso afirmar que nada restou desse texto inicial que nos foi oferecido na versão recém homologada.
Os trabalhos seguiram em vários encontros, tanto por Área do Conhecimento, quanto por Componente Curricular. O propósito que desafiava os grupos era o da formulação dos textos introdutórios e dos Objetivos de Aprendizagem. Em particular, posso afirmar a ousadia a que o grupo de História se propôs. Encaramos o desafio com bastante coragem, mesmo sabendo que as críticas seriam massivas e, em alguns casos, descontextualizadas. Tanto, que o lançamento da 1ª versão foi divulgado sem a parte do componente de História.
Mas, seguindo um processo democrático, para minha grata surpresa, a versão preliminar da BNCC foi submetida a uma consulta pública. Com milhares de acessos e contribuições, a consulta pública via internet criou uma sensação esperançosa de democracia, indicando que instituições alhures, escolas e sujeitos, de forma independente, pudessem consultar o material e fazer inferências sobre ele. De fato, levamos mais ou menos 8 meses até que as contribuições pudessem ser apreciadas e viessem a compor talvez o maior banco de dados já visto para a organização de um documento desta envergadura.
Das luzes as trevas? Mesmo que, na transição imposta pelo processo de impeachment muitos questionamentos vieram e, no final das contas, toda a equipe de especialistas que preparou a primeira e a segunda versão foi substituída, restando, enfim, uma sensação frustrante de interrupção dos trabalhos desenvolvidos anteriormente. Com essa ruptura, temos hoje, um cenário angustiante e incerto do qual o Ensino Médio ainda se ressente como refém de uma conjuntura política, em que a democracia está seriamente ameaçada. Naquilo que enfatizamos aqui, até que ponto as conjunturas políticas podem auxiliar ou aniquilar o desenvolvimento de determinadas políticas públicas para a educação?
Consideremos, então, que em todo processo dialético as contradições deem lugar a uma síntese. A síntese que aguardamos, com muita esperança, é que a BNCC venha a contemplar os interesses da cidadania brasileira e que ela seja finalmente um instrumento oportuno de construção da equidade para nossos jovens.

Antônio Daniel Marinho Ribeiro, Rapsodo dos Sertões.