quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

APROVAÇÃO – QUESTÃO EDUCACIONAL E SOCIAL



APROVAÇÃO – QUESTÃO EDUCACIONAL E SOCIAL

     

Chamamos a atenção do(a) leitor(a) amigo(a) a respeito de uma das problemáticas mais agudas na realidade educacional de Alagoas – a aprovação. Sim, precisamos em todos os momentos do ano letivo tocar nessa ferida. Queremos neste espaço traçar alguns vetores que incidem sobre a aprovação/reprovação dos nossos estudantes, ao passo que vamos dissertar sobre alguns problemas decorrentes de índice tão preocupante.
Semana passada, quase toda a equipe da Superintendência da Rede Estadual esteve em reunião com todos os gestores das escolas. Anteriormente, um trabalho qualitativo realizado com os técnicos pedagógicos das GERE, e que gerou um encontro com os coordenadores pedagógicos que foi realizado a fim de que pudéssemos dar nortes para os Conselhos de Classe deste final de ano. Os debates foram intensos e acreditamos que os momentos de contato direto com gestores, coordenadores, professores e estudantes devem ser extremamente proveitosos. Dessa vez, além de agradecer todo o trabalho desenvolvido no Programa Escola 10, tínhamos uma intenção bem clara: discutir e orientar a equipe gestora das nossas escolas para que entrássemos finalmente em uma nova cultura de aprovação qualificada.
Alguns discursos, mesmo que justos, precisavam ser desmistificados e desmitificados. Será impossível pensar e agir sobre as questões inerentes à evasão, à reprovação e à aprovação dos nossos estudantes, se a cultura da reprovação sistemática persistir. Por outro lado, ouvimos muito a desconfiança de quem dizia que esse trabalho visava apenas a índices, e que, portanto, tratava-se intencionalmente da aprovação irresponsável. Insistimos no discurso de que é extremamente simplório tratar a questão das taxas de aprovação como aprovação a qualquer custo.
Pensemos também que, o IDEB, sendo expresso em números, pode significar de forma organizacional algumas realidades definidoras da nossa educação. Quando pensamos, por exemplo, que um índice de rendimento de 0.70 expressa que, de cada 10 estudantes alagoanos 3 não progridem para a próxima série/ano, isso equivale dizer dentre outras coisas que algumas garotas da turma devem estar grávidas, alguns meninos e meninas precisam tomar conta de seus irmãos menores em casa, alguns meninos e meninas precisam trabalhar para complementar a renda, seja no campo ou na cidade, alguns meninos e meninas foram cooptados para o tráfico de drogas e, ao final das contas, outros tantos, por vários motivos, não alcançaram a pontuação necessária. Imaginemos que, desses tantos reprovados, alguns estejam fora da faixa adequada de idade/escolaridade e que se somem a essa dificuldade tantas outras que o façam finalmente desistir.
Não vamos também discursar em favor do processo de vitimização de uns e de satanização de outros, parece ser muito fácil apontar que um estudante não quer nada com a vida e que nos tempos passados tudo era diferente. Também deve ser muito fácil bradar que todos os professores já organizam, desde a primeira avaliação diagnóstica, a sua lista de reprovados, tendo como métrica o comportamento dos estudantes. Muito triste, no frigir dos ovos, é que a escola, enquanto equipamento social, não se mostrou competente para a sua finalidade mais clara, ao contrário, ela contribuiu para o fracasso do sujeito reprovado e para seu próprio fracasso.     
  O trabalho não pode parar, e isso não nos é uma novidade. Um dos pontos mais importantes do trabalho pedagógico é o tratamento processual da avaliação da aprendizagem e enfatizamos esse discurso com os gestores e coordenadores pedagógicos. Infelizmente Alagoas acumula historicamente a tradição da reprovação e isso deve ser, no mínimo, revisto. Precisamos focar na melhoria da taxa de aprovação, com aprovação qualificada, diga-se de passagem. Chega o momento dos Conselhos de Classe, embasados no que preconiza nossa Sistemática de Avaliação, analisarem de forma qualificada todos os casos de estudantes que correm o risco da reprovação. Sobre a sistemática, inclusive, insistimos em dizer que ela foi decorrente de uma ampla consulta à rede e como tal acabou sendo desenhada com a preocupação de ser uma sistemática de avaliação para um processo de avaliação qualificada. É necessário, até quando for possível, estabelecer estratégias concretas de recuperação da aprendizagem. Possuímos os Laboratórios de Aprendizagem, as Turmas de progressão, a Progressão Parcial e, como dissemos, uma Sistemática de Avaliação ao alcance do entendimento e da ação das equipes gestoras.
Para os casos onde a aprovação não seja possível, é importante que se verifique a possibilidade de aprovação por progressão parcial a partir do 6 ano. Lembremos que a Progressão Parcial está estabelecida no artigo 10 da Resolução do CEE 8/2007 e no Parecer CEE 236/2013. É indispensável a participação e a conscientização da gestão pedagógica das escolas, nesse momento tão importante. E aos(às) Senhores(as) Gestores e Coordenadores Pedagógicos a responsabilidade que urge nesse momento deve ser definidora da mudança da tradição da reprovação em massa, que inclusive incide sobre as taxas de evasão, para a aprovação qualificada e consciente dos nossos estudantes, com rigor pedagógico necessário e de acordo com a lei.
Tradições não são imutáveis. PAZ, BEM, ESPERANÇA E LUTA!

Antônio Daniel Marinho Ribeiro, Gerente de Desenvolvimento Educacional e Rapsodo dos Sertões. 

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

ENCRUZILHADAS DA JUVENTUDE BRASILEIRA - PARA UM NOVO ENSINO MÉDIO


Desde a promulgação da LEI Nº 13.415, DE 16 DE FEVEREIRO DE 2017, indicativa das mudanças na LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que a sociedade brasileira se questiona a respeito de qual futuro o Ensino Médio terá. E, de fato, são muitas as indagações, opiniões, possibilidades sociais e econômicas. Vamos, em nosso blog, iniciar uma discussão com várias interpretações e posicionamentos sobre as dúvidas e as ansiedades que circulam a reforma do Ensino Médio. Sigamos.
A primeira encruzilhada é política. Em que pesem todas as incertezas políticas da atual conjuntura de nosso país, sabemos que elas afetarão a construção de um novo modelo para o Ensino Médio. Sendo a plataforma política extremamente vasta, podemos relatar a coexistência de vários discursos. Entretanto, todos eles estão bem condensados em propagandas televisivas opacas e de pouca profundidade. A propaganda da televisão, entre outros temas, retrata a necessidade que o Ensino Médio tem de se reportar realmente às ansiedades da juventude brasileira, à necessidade da construção de itinerários adaptados e flexíveis e à garantia dos direitos mínimos de educação através da promulgação da BNCC. O que se sabe, por outro lado, é que ainda não existe um desenho ou protótipo de flexibilização curricular. Ao final das contas, quais experiências poderíamos denominar dessa forma? Nesse sentido, beber em experiências internacionais nos parece ser um caminho interessante, ao passo que, também não garantem sucesso por termos realidades totalmente diferentes em um país continental. Uma coisa é fazer educação básica em CNTP islandesas, outra coisa é realizar política pública educacional para quase 200 milhões de habitantes.
Outro aspecto preocupante para o Novo Ensino Médio é que ele também é refém da conjuntura política partidária. Não existe nada mais opaco do que essa situação. Lembremos que, já no governo Dilma, existia uma proposta análoga à que existe hoje no governo Temer. Soma-se a isso a incrível onda conservadora que observamos. Saída das entranhas da máquina política estatal, o Movimento Escola sem partido graceja a existência, ou retorno, de valores de imparcialidade, quando na verdade conclama o retorno dos valores morais cristãos, embasados em uma moralidade religiosa e/mais fundamentalmente não científica, como valor a ser adotado pelas escolas. Resumindo, a escola nega a sua própria essência, que é a de ser o receptáculo da cultura e da ciência moderna, como valor insubstituível do mundo laico. É importante lembrar, e peço aos leitores que aturem esse meu parêntese, que a escola moderna, civilizada ou que ao menos se propõe como tal, só pode ser democrática, científica e laica.
Dependerão dos fatores políticos ainda outras questões cruciais, como o financiamento da educação integral, profissional, os novos modelos de carreira para o profissional de magistério, a remuneração docente e, também, a estruturação do Ensino Médio que atenda aos segmentos de numerosos de jovens e adultos que não poderão se adaptar ao tempo integral – quem precisa trabalhar e etc. Em meio a tantas possibilidades, o primeiro desafio que pode se contrapor ou facilitar a reforma do Ensino Médio é de caráter político. Por isso mesmo é que se configura como uma encruzilhada. Sem perder as esperanças, vamos seguindo e discutindo.

PAZ, BEM, ESPERANÇA E LUTA – Antônio Daniel Marinho Ribeiro, Rapsodo dos Sertões.