sexta-feira, 21 de setembro de 2018

FORMAÇÃO DE PROFESSORES/GESTORES – ESTABELECIMENTO DE METAS ESVAZIANDO A XÍCARA





FORMAÇÃO DE PROFESSORES/GESTORES
ESTABELECIMENTO DE METAS
ESVAZIANDO A XÍCARA

Nas duas semanas em curso, nos dias 19 e 20 e 26 e 27 de setembro, a rede estadual de Alagoas estará passando pela formação dos seus professores/gestores. O número convém à nossa realidade, pois contabilizamos mais de 600 professores/gestores que, dispostos nas treze gerencias regionais e mais de 300 escolas, formam uma rede. A formação tem como eixo norteador que o professor/gestor é líder pedagógico da escola. É necessário fortalecer essa prédica. Por dois fatos: 1. Ainda é preciso que se fortaleça o papel de líder pedagógico dos professores/gestores pois ainda temos a peja de que a gestão da escola ainda está muito ligada a outros assuntos – prestação de contas, atendimento aos pais, indisciplina, fluxo de corredores, burocracia e etc. Por isso, torna-se muito importante realinhar o foco. É necessário salientar, também, que a rede estadual acabou de passar por um longo processo eleitoral, em que todas as escolas ou reelegeram seus professores/gestores ou elegeram novos professores/gestores, enfim, nesse universo de gestão escolar o número de professores que estão experimentando esse momento pela primeira vez ainda é considerável. 2. Ainda é preciso que se fortaleça o papel do líder pedagógico dos professores/gestores, pelo fato de que essa formação não pertence ao universo formativo desses professores. De forma simples, aprendemos na universidade a sermos professores e não professores/professor/gestores, a despeito que essa incumbência se demonstra aos colegas de profissão constantemente. Então, como saber se os caminhos trilhados estão sendo acertados? Como elaborar e reelaborar ações que possam efetivamente contribuir para a aprendizagem dos estudantes? Todas essas são questões que somente em colegiado constante e com o apoio das gerências regionais, colegas professores e SEDUC podem ser aprimoradas.
A formação começou pela árvore dos desafios, quando os professores/gestores são convidados a expressar, de forma rápida, quais eram os principais desafios que compõe o trabalho da gestão. A própria expectativa dos formadores era que, nesse momento, os professores/gestores se posicionem mais para questões relacionadas aos desafios estruturais, pessoal de apoio, comprometimento da equipe, indisciplina dos estudantes, a falta de foco, acumulo de atribuições, necessidade de descentralização de atribuições e etc., os desafios pedagógicos não foram muito descritos. Sintomaticamente os professores/gestores, por serem professores de formação não apontaram as questões pedagógicas, de forma consensual como um aspecto que já possui qualidade – quase um ponto pacífico.
Por outro lado, são elencadas questões de relacionamento como os mais pontuais como desafios. Assim sendo, a proposta inicial é exercitar a reflexão para a gestão por competências socioemocionais. Pelo óbvio compasso de que o desafio da convivência das vezes ultrapassa as barreiras do profissionalismo, tanto positivamente quanto negativamente. São questões sinuosas, de difícil acesso, pois envolve vidas, carreiras e sentimentos. É importante lembrar que na labuta da gestão de uma escola, na maioria das vezes se convive mais em ambiente de trabalho com outras pessoas do que em casa com os nossos familiares. A proposta é a utilização do autoconhecimento e de um alto grau de profissionalismo para se lidar com situações que fogem a qualquer regra de previsibilidade. Para saber superar esses desafios é necessário conhecimento e para tal, é necessário imergir nessa realidade. Agir como professor/gestor é perceber as entrelinhas e, além disso, saber agir sobre essas demandas. O diálogo entre esses diversos atores é difícil, pois somos fruto de gerações de professores que foram formados focando a especialização de sua própria área.... E no final das contas temos dificuldades em perceber a formação em sua totalidade humana: o ser humano afetivo, social e cultural. 
Por isso, o desenvolvimento das competências socioemocionais é extremamente importante para a qualificação dos professores/gestores. Capacidade de articular, mobilizar compreender diferenças, criar oportunidades potencializando os vários entes que estão em ação na escola. É óbvio que isso tem como objetivo fundamental a aprendizagem dos estudantes, com qualidade e tendo como princípios a igualdade e a inclusão pois estamos falando pontualmente de um equipamento social. As cinco emoções que enfocamos na formação são a abertura para novas experiências, a extroversão, a amabilidade, a conscienciosidade e a estabilidade emocional. Trata-se de um rumo novo, inclusive proposto para o desenvolvimento de competências e habilidades da BNCC, e que também deve estar presente na atmosfera da escola. Os principais responsáveis pelo desenvolvimento dessa atmosfera? Professores/gestores.
No final das discussões sobre as competências socioemocionais os professores/gestores são convidados a participar de uma dinâmica de autoconhecimento. Por meio de uma mandala, traduzida em uma roda para equipes de alta performance, cujos pontos de avaliação são: valorização das diferenças, disponibilidade para compartilhar conhecimento e expertise, desenvolver o espírito de visão sistemática, saber como pensa cada um dos outros, metas comuns, noção comum de propósitos e de prioridades, disponibilidade para falar abertamente, conhecimento das forças e dos pontos de melhoria de cada um. Após a análise de cada uma das competências os professores/gestores são convidados a pensar nas três mais cambaleantes e inferir propostas sobre elas. É importante que eles tenham sempre a mandala das potencialidades perto de si, como um semáforo a guiar os seus procedimentos.
Em um segundo momento, os professores/gestores são convidados a refletir a respeito das questões inerentes a três dimensões da gestão da escola. A dimensão participativa, que remete a questões de caráter de integração entre os diferentes entes da escola, não é tão diferente do que foi trabalhado na questão socioemocional como caminho para a aprendizagem. Torna-se importante, olhar o ser humano com a riqueza que ele pode oferecer e a necessidade de se estar sempre alerta para enxergar o outro. E que possa pensar também que existe uma rede de colaboração e auxílio aos estudantes, crianças, jovens e adultos. Tudo isso constitui uma fortaleza cuja rede pode ser uma saída que contemple a resolução de problemas de forma coletiva e colaborativa.  A gestão administrativa tende a identificar quais recursos (humanos, financeiros e patrimoniais) estão à disposição da gestão da escola pois focá-los, permite um real plano de ação tendo o pedagógico como meta. Essa dimensão é extremamente delicada, pois ela fundamenta toda a base estrutural da escola. Dessa forma, é importante ressaltar que a Gestão Pedagógica pode ser abordada como gestão de resultados, que não deve concorrer com o processo de gestão para a aprendizagem. Com isso, vale salientar que é da maior importância introduzir questões de avaliação dos vetores que resultam em desempenho de aprendizagem. A dimensão pedagógica precisa de estruturação e organização de dados, cujos resultados não são importantes para ranqueamentos, mesmo que eles nos tragam a sensação de vitória e/ou derrota. A análise dos resultados, tanto da avaliação da aprendizagem, quanto das avaliações externas é importante por evidenciar os problemas de aprendizagem mais latentes, que evidenciam para a comunidade escolar quais são os filões que devem ser sanados. É importante ter em mente que não se cria uma escola com base em ações ao acaso, nem nos achismos, mas com uma base sólida, diagnosticada, avaliada, discutida e gerida coletivamente.
No final do primeiro dia os professores/gestores são convidados a participar de uma oficina avaliativa sobre as três dimensões.
No segundo dia, os professores/gestores foram convidados a analisar a respeito dos índices da escola sob sua gestão. Algumas questões serão propostas como: Qual a importância do IDEB no contexto vivenciado pela escola? Os últimos dados são recentes, e nesse momento estamos ainda percebendo os saltos, os avanços e os desafios que a rede precisa enfrentar para o novo ciclo do IDEB. A rede está sob a emoção dos últimos resultados, e suscitam maiores desejos. No final das contas essa é uma escolha importante da rede, mesmo que existam críticas que a respeito dos trabalhos impulsionados às metas do IDEB. Torna-se necessário, então, justificar em que medida esse trabalho deve ser empreendido. Pois o trabalho para a conquista do IDEB não é mecânico e não se desenvolve com fórmulas mágicas. E não constituirá apenas número, mas contribuição substancial para o futuro dos nossos estudantes.
Assim, os trabalhos que envolvem o fluxo, requerem a sensibilidade da mudança de perspectiva pois é necessário vencer a tradição da reprovação punitiva. Isso não ocorre apenas pela questão do índice, mas principalmente pela questão social. Existem, reconhecidamente, maiores possibilidades de evasão por parte de estudantes que estão fora do fluxo idade/escolaridade, que são justamente os que mais são reprovados. Assim sendo, o trabalho com a permanência e aprovação qualificada dos nossos estudantes é fundamental para a vida da escola enquanto, equipamento social. O índice, então, será obviamente resultado desse esforço.
No que diz respeito aos trabalhos preparatórios para a Prova Brasil, eles devem estar atrelados, não somente em momentos pontuais, mas devem estar articulados à gestão da aprendizagem dos nossos estudantes. Para isso, tornam-se necessárias avaliações diagnósticas, trabalhos de resgate da aprendizagem, organização qualitativa da avaliação da aprendizagem, eventos de preparação pontual, orientação/acompanhamento/formação da prática docente, melhoria do clima escolar, parcerias com a família e a comunidade, enfim todas as possibilidades que tornem a aprendizagem efetiva. Assim, é importante entender que, existirá muito mais dificuldade na progressão dos estudantes em todos os componentes curriculares se o trabalho de base, de leitura, interpretação, produção de texto e resolução de problemas não for realizado.
Os professores/gestores estão recebendo o boletim da escola, cujo material foi produzido de forma personalizada e descreve os índices para cada etapa de escolaridade de cada escola da rede, com dados de proficiência em Matemática, Língua Portuguesa, o coeficiente de proficiência e Fluxo. Além disso, no boletim constam os dados de 2015, os dados projetados e as notas alcançadas em 2017. Com isso os professores/gestores são convocados a refletir sobre o desempenho histórico da escola, e a partir de então, e a socializar experiências e propor um pré-plano de ação para o ano de 2019.
O momento está motivando a elevação da autoestima dos profissionais da educação, trazendo para os nossos estudantes maiores possibilidades de protagonismo. Percebemos uma variedade pungente de vivências e experiências em nossas escolas, em que várias tempestades de ideias surgem possibilidades de emersão da nossa educação. O saldo positivo desse momento está em fortalecermos o trabalho sistemático em rede. Mais de 300 escolas convocadas a pensar sua gestão tendo como foco a aprendizagem. Que 2019 seja repleto em sua seara e em seus frutos.
(Daniel Marinho, Rapsodo dos Sertões)