terça-feira, 9 de janeiro de 2018

DA SÉRIE PARA UM NOVO ENSINO MÉDIO: BNCC – DAS LUZES AO OBSCURANTISMO?



DA SÉRIE PARA UM NOVO ENSINO MÉDIO:
BNCC – DAS LUZES AO OBSCURANTISMO?
Questão a ser tratada, com urgência, é a Base Nacional Comum Curricular - BNCC. Estamos vivenciando um dos últimos processos de construção e implementação de uma Base Nacional Comum para o Brasil, o que torna importante ressaltar a presença do terceiro setor na cerimônia de homologação além das outras autoridades tangentes ao processo. Nessa cerimônia de homologação, tal como antes, foi apenas promulgada a versão para a Educação Infantil e Ensino Fundamental, enquanto que o Ensino Médio continua sendo um grande ponto de interrogação.
Para falar um pouco da experiência vivida enquanto professor de História que passou pelo corpo de especialistas que elaboraram as duas primeiras versões preliminares, fui convocado, à época, enquanto técnico pedagógico da SEDUC/AL para participar da construção da BNCC. Já tendo experiência na construção do Referencial Curricular da Rede Estadual de Alagoas, quando do convite, fiquei extremamente lisonjeado, ao passo em que também me pus com um pé atrás e munido de uma desconfiança própria de professores de História diante de uma empreitada dessa monta. A minha sensação era a de que chegaríamos no processo apenas para validar os textos pré-cozidos pelo MEC, mas que no final das contas, a experiência se mostrou válida.
Ao menos que o caro leitor acredite em teorias da conspiração, para a minha surpresa o trabalho estava totalmente cru. Para não dizer que não falei das flores, posso até afirmar que foi posto em discussão, de forma preliminar, um texto que serviria de base para a Área de Ciências Humanas, entretanto estava mal-acabado e serviu apenas de preâmbulo para as discussões. Posso afirmar que nada restou desse texto inicial que nos foi oferecido na versão recém homologada.
Os trabalhos seguiram em vários encontros, tanto por Área do Conhecimento, quanto por Componente Curricular. O propósito que desafiava os grupos era o da formulação dos textos introdutórios e dos Objetivos de Aprendizagem. Em particular, posso afirmar a ousadia a que o grupo de História se propôs. Encaramos o desafio com bastante coragem, mesmo sabendo que as críticas seriam massivas e, em alguns casos, descontextualizadas. Tanto, que o lançamento da 1ª versão foi divulgado sem a parte do componente de História.
Mas, seguindo um processo democrático, para minha grata surpresa, a versão preliminar da BNCC foi submetida a uma consulta pública. Com milhares de acessos e contribuições, a consulta pública via internet criou uma sensação esperançosa de democracia, indicando que instituições alhures, escolas e sujeitos, de forma independente, pudessem consultar o material e fazer inferências sobre ele. De fato, levamos mais ou menos 8 meses até que as contribuições pudessem ser apreciadas e viessem a compor talvez o maior banco de dados já visto para a organização de um documento desta envergadura.
Das luzes as trevas? Mesmo que, na transição imposta pelo processo de impeachment muitos questionamentos vieram e, no final das contas, toda a equipe de especialistas que preparou a primeira e a segunda versão foi substituída, restando, enfim, uma sensação frustrante de interrupção dos trabalhos desenvolvidos anteriormente. Com essa ruptura, temos hoje, um cenário angustiante e incerto do qual o Ensino Médio ainda se ressente como refém de uma conjuntura política, em que a democracia está seriamente ameaçada. Naquilo que enfatizamos aqui, até que ponto as conjunturas políticas podem auxiliar ou aniquilar o desenvolvimento de determinadas políticas públicas para a educação?
Consideremos, então, que em todo processo dialético as contradições deem lugar a uma síntese. A síntese que aguardamos, com muita esperança, é que a BNCC venha a contemplar os interesses da cidadania brasileira e que ela seja finalmente um instrumento oportuno de construção da equidade para nossos jovens.

Antônio Daniel Marinho Ribeiro, Rapsodo dos Sertões.