quarta-feira, 25 de abril de 2018

ABANDONO ESCOLAR – QUESTÃO SOCIAL E PEDAGÓGICA – O COPO ESTÁ ENCHENDO...


ABANDONO ESCOLAR – QUESTÃO SOCIAL E PEDAGÓGICA – O COPO ESTÁ ENCHENDO...

         Na última semana a equipe SURE (Superintendência da Rede Estadual de Ensino) consultando os dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) lançou os dados sobre evasão, taxa de aprovação e de reprovação da Rede Estadual de Ensino de Alagoas, desde 2014. Analisando esses dados veio-me à memória uma metáfora antiga que minha mãe cansava de repetir – a do copo meio cheio e meio vazio.
         Sabemos o quão interessante e perigoso pode ser a análise de realidades sociais através de dados quantitativos. Gosto inclusive de dizer que, afinal de contas, será a postura dos sistemas educacionais, com seus professores, coordenadores, gestores, gerências regionais e SEDUC, em suas posturas, se o dado será utilizado como vetor de avaliação e reposicionamento das ações ou meramente fará parte do amontoado amorfo e frígido da burocracia. Torna-se necessário, portanto, entender que os dados devem pertencer à galeria das considerações que fundamentam a projeção, traçam metas e institucionalizam ações criando uma cultura de trabalho pedagógico com profissionalismo e foco. Pois bem, sigamos.
         Dessa forma, as taxas de rendimento da rede estadual de ensino de Alagoas foram analisadas desde de 2012 até 2017, pelas fontes que foram acima referenciadas. Estamos aprovando mais e com mais qualidade. Em 2012 o Ensino Fundamental tinha uma Taxa de Aprovação de 68,7 e já em 2017 observamos 85,0. No Ensino Médio tínhamos uma aprovação de 69,0 e em 2017 observamos 83,1. Estamos reprovando menos, mesmo que ainda reprovemos muito. Em 2012 a Taxa de Reprovação no Ensino Fundamental era de 16,2, já em 2017 reprovamos 8,8. No Ensino Médio reprovamos em 2012 o total de 9,2 e em 2017 o total de 7,5. E nossos estudantes estão abandonando menos a escola, mas não podemos relaxar em hipóteses alguma. Em 2012 15,1 dos nossos estudantes do Ensino Fundamental tinham que abandonar os estudos, já em 2017 6,2 foram forçados a tal. Quanto ao Ensino Médio em 2012 21,8 dos estudantes abandonavam, já em 2017 9,4 assim o fizeram.
Se observarmos, numa perspectiva histórica, esses dados demonstram, contraditoriamente, que sérios problemas sociais persistem, ao passo que demonstram um avanço progressivo, o que não demonstra algo conjuntural ou acidental, mas consciente, por se tratar da organização coletiva de políticas públicas de educação e ininterrupto, pois resulta de uma proposta de estado.
O copo ainda está meio vazio, representa dizer que os dados que indicam problemas com evasão, aprovação e reprovação decorrentes dos contextos sociais e pedagógicos. Nesse caso, a evasão, se evidencia como uma das questões mais difíceis de serem combatidas, pela presença muito evidente de vetores exógenos à vida escolar de forma direta. A necessidade de locomoção de algumas famílias, onde um dos cônjuges precisa estar atrelado a invariabilidade do seu ofício. A quantidade de meninas e meninos que se vem nas relações de maternidade e paternidade precocemente. A quantidade de jovens que estão ligados ao tráfico de drogas e outros tipos de violência. A quantidade de jovens que precisam tomar conta dos irmãos mais novos, ou dos idosos da família. Finalmente, a quantidade de jovens que precisam trabalhar, de forma perene ou sazonal, tanto nos perímetros urbanos, quanto nas lavouras e no extrativismo.
Mas estamos enchendo o copo. Mesmo com a consciência umbilical de que muito deve ser feito precisamos pensar que esses dados não foram ao acaso. Eles representam a institucionalização e implementação na rede estadual de Alagoas de várias ações e principalmente de uma nova atmosfera da vida escolar. Assim, o protagonismo juvenil tem sido uma das marcas dos últimos tempos nas escolas da rede estadual, e dizendo-o por uma interpretação bastante pessoal que o desenvolvimento dessa perspectiva também é o fortalecimento da gestão democrática e por fim, do exercício da cidadania. Percebemos, ainda, que o desenvolvimento da proposta curricular das escolas de Ensino Integral também está nessa direção. Finalmente, a rede estadual de ensino passou a entender e agir para o desenvolvimento da inclusão e da qualidade do ensino através da prática cidadã e da perspectiva científica para a formação dos nossos estudantes.
(Daniel Marinho, Rapsodo dos Sertões, Gerente de Desenvolvimento Educacional)