APROVAÇÃO – QUESTÃO EDUCACIONAL E
SOCIAL
Chamamos
a atenção do(a) leitor(a) amigo(a) a respeito de uma das problemáticas mais
agudas na realidade educacional de Alagoas – a aprovação. Sim, precisamos em
todos os momentos do ano letivo tocar nessa ferida. Queremos neste espaço
traçar alguns vetores que incidem sobre a aprovação/reprovação dos nossos
estudantes, ao passo que vamos dissertar sobre alguns problemas decorrentes de
índice tão preocupante.
Semana
passada, quase toda a equipe da Superintendência da Rede Estadual esteve em
reunião com todos os gestores das escolas. Anteriormente, um trabalho
qualitativo realizado com os técnicos pedagógicos das GERE, e que gerou um
encontro com os coordenadores pedagógicos que foi realizado a fim de que
pudéssemos dar nortes para os Conselhos de Classe deste final de ano. Os
debates foram intensos e acreditamos que os momentos de contato direto com
gestores, coordenadores, professores e estudantes devem ser extremamente proveitosos.
Dessa vez, além de agradecer todo o trabalho desenvolvido no Programa Escola 10,
tínhamos uma intenção bem clara: discutir e orientar a equipe gestora das
nossas escolas para que entrássemos finalmente em uma nova cultura de aprovação
qualificada.
Alguns
discursos, mesmo que justos, precisavam ser desmistificados e desmitificados.
Será impossível pensar e agir sobre as questões inerentes à evasão, à reprovação
e à aprovação dos nossos estudantes, se a cultura da reprovação sistemática
persistir. Por outro lado, ouvimos muito a desconfiança de quem dizia que esse
trabalho visava apenas a índices, e que, portanto, tratava-se intencionalmente
da aprovação irresponsável. Insistimos no discurso de que é extremamente
simplório tratar a questão das taxas de aprovação como aprovação a qualquer
custo.
Pensemos
também que, o IDEB, sendo expresso em números, pode significar de forma
organizacional algumas realidades definidoras da nossa educação. Quando
pensamos, por exemplo, que um índice de rendimento de 0.70 expressa que, de
cada 10 estudantes alagoanos 3 não progridem para a próxima série/ano, isso
equivale dizer dentre outras coisas que algumas garotas da turma devem estar
grávidas, alguns meninos e meninas precisam tomar conta de seus irmãos menores
em casa, alguns meninos e meninas precisam trabalhar para complementar a renda,
seja no campo ou na cidade, alguns meninos e meninas foram cooptados para o
tráfico de drogas e, ao final das contas, outros tantos, por vários motivos,
não alcançaram a pontuação necessária. Imaginemos que, desses tantos reprovados,
alguns estejam fora da faixa adequada de idade/escolaridade e que se somem a
essa dificuldade tantas outras que o façam finalmente desistir.
Não
vamos também discursar em favor do processo de vitimização de uns e de
satanização de outros, parece ser muito fácil apontar que um estudante não quer
nada com a vida e que nos tempos passados tudo era diferente. Também deve ser
muito fácil bradar que todos os professores já organizam, desde a primeira
avaliação diagnóstica, a sua lista de reprovados, tendo como métrica o
comportamento dos estudantes. Muito triste, no frigir dos ovos, é que a escola,
enquanto equipamento social, não se mostrou competente para a sua finalidade
mais clara, ao contrário, ela contribuiu para o fracasso do sujeito reprovado e
para seu próprio fracasso.
O trabalho não pode parar, e isso não nos é
uma novidade. Um dos pontos mais importantes do trabalho pedagógico é o
tratamento processual da avaliação da aprendizagem e enfatizamos esse discurso
com os gestores e coordenadores pedagógicos. Infelizmente Alagoas acumula
historicamente a tradição da reprovação e isso deve ser, no mínimo, revisto.
Precisamos focar na melhoria da taxa de aprovação, com aprovação qualificada,
diga-se de passagem. Chega o momento dos Conselhos de Classe, embasados no que
preconiza nossa Sistemática de Avaliação, analisarem de forma qualificada todos
os casos de estudantes que correm o risco da reprovação. Sobre a sistemática,
inclusive, insistimos em dizer que ela foi decorrente de uma ampla consulta à
rede e como tal acabou sendo desenhada com a preocupação de ser uma sistemática
de avaliação para um processo de avaliação qualificada. É necessário, até
quando for possível, estabelecer estratégias concretas de recuperação da
aprendizagem. Possuímos os Laboratórios de Aprendizagem, as Turmas de progressão,
a Progressão Parcial e, como dissemos, uma Sistemática de Avaliação ao alcance
do entendimento e da ação das equipes gestoras.
Para
os casos onde a aprovação não seja possível, é importante que se verifique a
possibilidade de aprovação por progressão parcial a partir do 6 ano. Lembremos
que a Progressão Parcial está estabelecida no artigo 10 da Resolução do CEE
8/2007 e no Parecer CEE 236/2013. É indispensável a participação e a
conscientização da gestão pedagógica das escolas, nesse momento tão importante.
E aos(às) Senhores(as) Gestores e Coordenadores Pedagógicos a responsabilidade
que urge nesse momento deve ser definidora da mudança da tradição da reprovação
em massa, que inclusive incide sobre as taxas de evasão, para a aprovação
qualificada e consciente dos nossos estudantes, com rigor pedagógico necessário
e de acordo com a lei.
Tradições
não são imutáveis. PAZ, BEM, ESPERANÇA E
LUTA!
Antônio Daniel Marinho
Ribeiro, Gerente de Desenvolvimento Educacional e Rapsodo dos Sertões.