Nessa
última semana, estivemos reunidos durante dois dias com gerentes regionais,
chefes de rede e técnicos pedagógicos. Alguns desses últimos ganharam o
apelido, que advogo que se torne uma alcunha, de elos pedagógicos. A
denominação me parece justa, já que, além de professores, esses técnicos
pedagógicos desempenham um trabalho árduo em suas regionais com o objetivo de
realizar o acompanhamento pedagógico das escolas. A despeito de todo o empenho,
consideramos que alguns pontos e procedimentos precisam ser repensados e, por
consequência, mudados. Daí, nesses dois dias termos convidados tantos confrades
com a intenção de apresentar-lhes as novas/antigas ideias para o acompanhamento
pedagógico. Novas/antigas justificasse, já que, para os momentos de mudanças,
tendemos a fracassar, quanto mais acharmos que as experiências anteriores não
tenham muito a nos dizer. Elas inclusive, têm a nos dizer na medida em que
vários de seus elementos são postos a prova, interrogados e finalmente
descartados ou aproveitados, como produtores de uma síntese. Então, chegamos à
conclusão de que era necessário analisar quais os formatos com os quais o
acompanhamento pedagógico sempre aconteceu e realizar uma crítica desse
processo. Feito esse primeiro percurso, a intenção passou a ser o
estabelecimento dos princípios do acompanhamento pedagógico para as escolas da
rede estadual de ensino.
Algumas
considerações e algumas prédicas precisam ser contestadas, quiçá aniquiladas do
cotidiano do acompanhamento pedagógico. Convido então, o(a) amigo(a) leitor a
pensar sobre elas. Até então, nos parece que existe uma tradição na rede
estadual que versa que o monitoramento das escolas se travestia de uma
atmosfera de vigilância, punição e burocratização das ações. Discutimos essas
questões nas reuniões e pudemos colher as principais impressões a respeito da
confirmação da presença desses hábitos. Vamos finalmente ao nosso desafio?
Mesmo
sabendo que muito tem sido feito, precisamos implodir as sensações de
vigilância e punição. Vejamos inclusive, que já por muito tempo, a educação
brasileira chamava o ato de “visitar” escolas de monitoramento. O ato de
monitorar, e o fato de que todo ele era acompanhado de um capital social e
cultural muito forte, por parte do técnico da regional ou da SEDUC, produzia
uma antipatia da equipe escolar. São ainda muito comuns os discursos como: Esse
cara da secretaria só vem aqui exigir. A secretaria só pede as coisas. A equipe
da SEDUC vem nos punir. Visto isso, é necessário dizer que a primeira grande
intencionalidade do acompanhamento pedagógico é a criação de um laço de
confiança fundada no profissionalismo. Isso equivale dizer que, rejeitando o
papel de um algoz do cotidiano da escola, o elo pedagógico deve integrar-se às
rotinas, observando as fraquezas do processo de gestão pedagógica auxiliando a
superação desses percalços. Gosto demais de dizer que nossa tarefa é criar
pontes e não muros.
Mesmo
sabendo que muito tem sido feito, precisamos implodir a sensação de
burocratização do acompanhamento pedagógico. Pensemos, outra vez, na imagem do
elo pedagógico indo à escola, entregando uma ficha qualquer, aguardando que ela
seja preenchida, tomando um último cafezinho e indo embora. Nem preciso dizer
que aquela ficha produz, na verdade, um lapso de realidade, um corte de memória
tremenda sobre as relações da escola. Não que os números não digam nada. Na
verdade, dizem parcialmente, e são sempre importantes para que, de forma
proto-cientifica, se possa planejar as políticas públicas em educação. Queremos
dizer então, que, mesmo existindo uma parcela importante de colhida de dados de
forma alguma eles serão a razão principal da execução do acompanhamento
pedagógico.
E
finalmente, onde queremos chegar? Precisamos compreender o acompanhamento como
a criação de uma rotina de ação – orientação – ação nas escolas da rede. O elo
pedagógico será o agente que, inserido no dia a dia da escola, poderá inferir
sobre o desenvolvimento das práticas pedagógicas, contribuindo para que a
escola se perceba com uma gestão mais racionalizada e produtiva. Nesse sentido,
profissionalismo, e até mesmo o afeto, servirão para a criação de elos de
confiabilidade essenciais ao impulso da nossa realidade escolar.
Antônio
Daniel Marinho Ribeiro, Rapsodo dos Sertões.
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