sexta-feira, 12 de março de 2021

FALANDO EM DESIGUALDADES!

 

            Um assunto simples de se falar, naturalizando sua existência ou denunciando suas estruturas sociais – mas muito difícil se combater: Vamos falar em desigualdade social!

            Todos os meses de janeiro acontece o Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça). O encontro tem como objetivo discutir os principais direcionamentos do comércio internacional e as possibilidades para a saída de crises do sistema financeiro e organização da riqueza produzida pelas nações e empresas. É óbvio que nem todos os dinamismos dos sistemas econômicos mundiais são levados em consideração, principalmente por que o Fórum acontece em posicionamento as exigências mais contemporâneas, ou de interesse mais direto dessas nações. Desta feita o tema proposto por nós nesse texto, a desigualdade, não é, nem nunca foi lá alvo de grande preocupação do fórum.

            Em 2020 uma pesquisa foi lançada momentos antes do Fórum. Certa quantidade de sal foi posta na ferida. Ela relata que um pequeno grupo de pouco mais de duas mil pessoas possuem patrimônio maior que 1 bilhão de dólares. A detenção desta riqueza equivale ao total de riquezas de 60% da população mundial. Esse levantamento foi realizado pela Rede de organizações não governamentais - OXFAM. A concentração de renda é o vetor fundamental que indica a desigualdade no mundo – simples! Da pesquisa inclusive, podem ser retratados vários dados aterradores como: 22 homens possuem a riqueza de todas as mulheres da África. Ao término da questão a desigualdade gerada pela péssima distribuição de renda no mundo faz, hoje, com que bilhões de pessoas tenham que sobreviver com menos de 5,50 dólares por dia.

            Dos 82 países pesquisados, o Brasil ocupa a 60ª posição do ranking. Os esforços rendidos pelos vários fóruns alternativos a Davos não tem representado grandes consequências para a mudança dos cenários de desigualdade no Brasil e no Mundo. E por que?

1.        A desigualdade não pode ser encarada de forma singular, ela é plural. Mesmo que ela parta do grande motivo que é a péssima distribuição de renda, que emerge de privilégios inatingíveis para 99% da população, as causas são diversas. No Brasil, por exemplo podemos apontar a petrificação dos privilégios para a classe rentista que acumula bilhões de reais em lucros que, inclusive saem em grande medida da circulação de riquezas do país – empobrecendo inclusive a circulação de mercadorias e a prestação de serviços, enfraquecendo a economia.

2.      A desigualdade é naturalizada pela mídia, pelos costumes e pelo processo histórico da construção da civilização, tanto oriental quanto ocidental. Em maior ou menor medida, é impossível não vermos uma nação em que a classe dirigente não tenha construído uma narrativa histórica e quase mítica para apontar as razões seculares, consagradas e naturalizadas dos seus privilégios. As castas na Índia, a opressão de regimes ditatoriais de esquerda ou direita... O processo de naturalização da desigualdade, emergente do processo de escravidão no Brasil customiza a nossa desigualdade em um discurso racial e que imprime narrativas pejorativas de ódio aos pobres.

3.      A desigualdade é legitimada. Não foram incomuns historicamente as organizações de modelos políticos que estabelecessem privilégios, implicitamente ou não. De forma mais violenta ou não. O processo de legitimidade cria inclusive, e de forma eficaz, uma carapaça protetora a narrativa da desigualdade. Estar na lei seria estar, em certa medida, dentro da malha de privilégios que segregam. Não queremos dizer com isso que devemos viver em anarquia, mas precisamos sempre refletir que o sistema legislativo que prima pelas garantias de direitos, no nosso caso também protege grandes fortunas de uma maior tributação. Dentro da lei os bilionários conseguem se safar de até 30% do valor dos tributos que normalmente um cidadão comum deve aos cofres públicos, proporcionalmente.

4.      A desigualdade está e tem efetividade para todos, entretanto ela acontece de forma mais acentuada para as mulheres. Segundo a pesquisa 75% dos trabalhos realizados sem registro ou direitos são desempenhados por mulheres. Precisam, na maioria dos países em desenvolvimento, combinar os processos cotidianos do trabalho, dos cuidados com a família, da agricultura e etc., criando uma espécie de redemoinho que impede a articulação de um trabalho em que possam minimamente pensar em crescimento humano.

5.      A desigualdade é geográfica e produz uma divisão continental dos espaços na civilização. Os processos históricos que desencadearam na modernidade mostram que a desigualdade está posicionada na América (incluindo os EUA), Ásia e África abarcando mais da metade da população do planeta. O mais importante deste dado, é que ele evidencia que a questão da desigualdade seja pauta de interesse apenas para alguns grupos, não constituindo efetivamente um norte para a organização e implementação das políticas públicas no mundo.

 

Em meio a todas essas questões, o discurso liberal sintetiza, naturaliza e até mesmo sacraliza o discurso que dissocia a responsabilidade do sistema econômico, sendo a desigualdade um problema específico de organização dos governos. Ou não estamos vendo cada dia mais discursos que falam em menos direitos trabalhistas, mais tempo de trabalho e a reorganização da economia para desestatização do estado? Falaremos mais sobre essas associações!  

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