Um
assunto simples de se falar, naturalizando sua existência ou denunciando suas
estruturas sociais – mas muito difícil se combater: Vamos falar em desigualdade
social!
Todos os meses de janeiro acontece o
Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça). O encontro tem como objetivo
discutir os principais direcionamentos do comércio internacional e as
possibilidades para a saída de crises do sistema financeiro e organização da riqueza
produzida pelas nações e empresas. É óbvio que nem todos os dinamismos dos
sistemas econômicos mundiais são levados em consideração, principalmente por
que o Fórum acontece em posicionamento as exigências mais contemporâneas, ou de
interesse mais direto dessas nações. Desta feita o tema proposto por nós nesse
texto, a desigualdade, não é, nem nunca foi lá alvo de grande preocupação do
fórum.
Em 2020 uma pesquisa foi lançada
momentos antes do Fórum. Certa quantidade de sal foi posta na ferida. Ela relata
que um pequeno grupo de pouco mais de duas mil pessoas possuem patrimônio maior
que 1 bilhão de dólares. A detenção desta riqueza equivale ao total de riquezas
de 60% da população mundial. Esse levantamento foi realizado pela Rede de organizações
não governamentais - OXFAM. A concentração de renda é o vetor fundamental que
indica a desigualdade no mundo – simples! Da pesquisa inclusive, podem ser
retratados vários dados aterradores como: 22 homens possuem a riqueza de todas
as mulheres da África. Ao término da questão a desigualdade gerada pela péssima
distribuição de renda no mundo faz, hoje, com que bilhões de pessoas tenham que
sobreviver com menos de 5,50 dólares por dia.
Dos 82 países pesquisados, o Brasil
ocupa a 60ª posição do ranking. Os esforços rendidos pelos vários fóruns
alternativos a Davos não tem representado grandes consequências para a mudança
dos cenários de desigualdade no Brasil e no Mundo. E por que?
1.
A desigualdade não pode ser encarada de
forma singular, ela é plural. Mesmo que ela parta do grande motivo que é a
péssima distribuição de renda, que emerge de privilégios inatingíveis para 99%
da população, as causas são diversas. No Brasil, por exemplo podemos apontar a
petrificação dos privilégios para a classe rentista que acumula bilhões de
reais em lucros que, inclusive saem em grande medida da circulação de riquezas
do país – empobrecendo inclusive a circulação de mercadorias e a prestação de
serviços, enfraquecendo a economia.
2.
A desigualdade é naturalizada pela
mídia, pelos costumes e pelo processo histórico da construção da civilização,
tanto oriental quanto ocidental. Em maior ou menor medida, é impossível não
vermos uma nação em que a classe dirigente não tenha construído uma narrativa
histórica e quase mítica para apontar as razões seculares, consagradas e
naturalizadas dos seus privilégios. As castas na Índia, a opressão de regimes
ditatoriais de esquerda ou direita... O processo de naturalização da
desigualdade, emergente do processo de escravidão no Brasil customiza a nossa
desigualdade em um discurso racial e que imprime narrativas pejorativas de ódio
aos pobres.
3.
A desigualdade é legitimada. Não foram
incomuns historicamente as organizações de modelos políticos que estabelecessem
privilégios, implicitamente ou não. De forma mais violenta ou não. O processo
de legitimidade cria inclusive, e de forma eficaz, uma carapaça protetora a
narrativa da desigualdade. Estar na lei seria estar, em certa medida, dentro da
malha de privilégios que segregam. Não queremos dizer com isso que devemos
viver em anarquia, mas precisamos sempre refletir que o sistema legislativo que
prima pelas garantias de direitos, no nosso caso também protege grandes
fortunas de uma maior tributação. Dentro da lei os bilionários conseguem se
safar de até 30% do valor dos tributos que normalmente um cidadão comum deve
aos cofres públicos, proporcionalmente.
4.
A desigualdade está e tem efetividade
para todos, entretanto ela acontece de forma mais acentuada para as mulheres. Segundo
a pesquisa 75% dos trabalhos realizados sem registro ou direitos são
desempenhados por mulheres. Precisam, na maioria dos países em desenvolvimento,
combinar os processos cotidianos do trabalho, dos cuidados com a família, da agricultura
e etc., criando uma espécie de redemoinho que impede a articulação de um
trabalho em que possam minimamente pensar em crescimento humano.
5.
A desigualdade é geográfica e produz
uma divisão continental dos espaços na civilização. Os processos históricos que
desencadearam na modernidade mostram que a desigualdade está posicionada na
América (incluindo os EUA), Ásia e África abarcando mais da metade da população
do planeta. O mais importante deste dado, é que ele evidencia que a questão da
desigualdade seja pauta de interesse apenas para alguns grupos, não
constituindo efetivamente um norte para a organização e implementação das
políticas públicas no mundo.
Em
meio a todas essas questões, o discurso liberal sintetiza, naturaliza e até
mesmo sacraliza o discurso que dissocia a responsabilidade do sistema
econômico, sendo a desigualdade um problema específico de organização dos
governos. Ou não estamos vendo cada dia mais discursos que falam em menos
direitos trabalhistas, mais tempo de trabalho e a reorganização da economia para
desestatização do estado? Falaremos mais sobre essas associações!
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